A pandemia sacudiu o mundo em 2020, afetando todos os grupos de pessoas e a Odontologia foi uma das profissões mais afetadas.
De fato, muitos cirurgiões-dentistas tiveram o fluxo do consultório bastante reduzido nos primeiros meses da pandemia, justamente por exercer uma atividade com alto risco de contágio.
Assim, devido ao medo, diversos pacientes desmarcaram suas consultas, postergando o atendimento odontológico. Mas o movimento de pacientes, aos poucos, vai retornando ao normal.
A biossegurança é forte aliado do profissional da Odontologia e atender um paciente durante a pandemia é viável. Obviamente, diversos cuidados devem ser tomados e as recomendações devem ser seguidas à risca.
Pensando na biossegurança durante a pandemia, vamos falar sobre os principais cuidados que o cirurgião-dentista deve ter, para minimizar riscos e assim, atender seu paciente com cuidado e qualidade.

Risco de transmissão

É sabido que pacientes contaminados pelo vírus da COVID, sendo assintomáticos ou sintomáticos, possuem alta carga viral nas vias aéreas superiores.
Com isso, o risco de transmitir o vírus ao cirurgião dentista pode ser grande, se medidas de biossegurança não forem tomadas.
De fato, a exposição do profissional de Odontologia é grande sobretudo devido à geração dos aerossóis, o que acontece quando se utiliza a caneta de alta rotação.
A principal recomendação de biossegurança é atender todo e qualquer paciente, bem como o próprio profissional, como se esse fosse contaminado pelo coronavírus.

Recomendações aos pacientes antes de chegarem ao consultório

No início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o atendimento odontológico eletivo fosse suspenso, sendo atendido somente casos de urgência.
Essa postura ainda é seguida por alguns colegas, bem como no atendimento de pacientes da rede pública de muitos estados no Brasil.
Porém, alguns tratamentos não podem ser simplesmente suspensos, com o risco de trazer prejuízos à saúde do paciente, como é o caso, por exemplo, de tratamentos endodônticos.
Além disso, o cirurgião-dentista vive de seu trabalho, não podendo ficar meses, muitas vezes, aguardando que a situação melhore, bem como não deixará pacientes em situação de dor, necessitando de atendimento.
Assim, alguns cuidados antes do paciente chegar ao consultório são necessários:

  • Entre em contato com o paciente uma hora antes da consulta agendada e pergunta sobre seu estado de saúde, sobretudo se ele está com algum sintoma de quadro gripal. Caso a resposta seja positiva, reagende o paciente para uma nova data e oriente a procurar atendimento médico;
  • Solicite que o paciente venha ao consultório com máscara. A máscara só deve ser retirada com o paciente já na cadeira para atendimento;
  • Deixe recomendações na sala de espera para que nenhum paciente permaneça na sala sem máscara;
  • Não agende pacientes em horários próximos, para que não haja aglomeração na sala de espera;
  • Oriente que o paciente venha sozinho. Se o paciente vier com algum acompanhante, oriente que esse acompanhante não permaneça na sala de espera;
  • Não cumprimente o paciente com abraços ou com as mãos;
  • Deixe um pano com hipoclorito de sódio (água sanitária) na entrada, para que o paciente limpe as solas dos sapatos antes de adentrar o consultório;
  • Caso o paciente traga bolsas ou mochila, avise-o que seus pertences serão colocados em um saco plástico para guardar seus itens e quando a consulta terminar, os pertences devolvidos e o saco descartado.

Orientações para a equipe

A equipe de saúde bucal, bem como a equipe de limpeza do consultório deve sempre utilizar o Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Não deve haver aglomeração de funcionários, bem como a limpeza do ambiente deve ser feita sempre após a saída do paciente.
Deixe haver sempre a limpeza das superfícies com álcool 70 ou hipoclorito de sódio a 1%.

Recomendações do atendimento odontológico

Durante o atendimento, algumas práticas são importantes:

  • Usar o máximo possível de material descartável;
  • Quando possível, limite o uso de alta rotação e jato de bicarbonatos, bem como ultrassom, para diminuir a geração de aerossóis;
  • Sempre que possível, utilizar isolamento absoluto;
  • Se for utilizar a alta rotação, lembre-se de utilizar uma proteção de plástico descartável (como um saquinho plástico) na caneta;
  • Limite o uso da seringa tríplice, sobretudo na forma de spray de ar/água, para não gerar uma névoa sobre a cavidade bucal.

Utilização de EPI

A utilização de EPI é essencial e o EPI deve ser trocado a cada atendimento.
O profissional cirurgião-dentista deverá utilizar jaleco descartável e impermeável, com fechamento traseiro e gramatura mínima de 50 g/cm3, bem como gorro e óculos de proteção e máscara cirúrgica, além de luvas.
É recomendável o uso de protetores faciais (faceshields) e máscara N95, porém sempre cobertos com faceshields, uma vez que sua eficácia diminui consideravelmente quando molhadas.
A remoção e o descarte do EPI também deve ser feito de maneira cuidadosa, em lixo biológico e armazenado corretamente, seguindo a ordem: luvas, faceshield, gorro, avental, respirador e óculos de proteção.

Alguns fatos são importantes:

  • Antes da colocação de EPI, remova relógios e brincos;
  • No caso das mulheres, deixe o cabelo preso e dentro do gorro de proteção;
  • Deixe o celular no bolso e não o toque durante o atendimento, para não quebrar a cadeia séptica;
  • Após a remoção do EPI, lavar imediatamente as mãos e os pulsos, usando sabão e álcool 70 depois;
  • Finalizado o atendimento, é importante que a sala de atendimento fique aberta, para ventilação, por pelo menos 15 minutos antes da limpeza, para que o aerossol formado possa ser dispersado.

Conclusão

O atendimento ao paciente odontológico durante a pandemia deve ser encarado como uma atividade de risco alto, em virtude da produção de aerossóis.
Portanto, cuidados são necessários para minimizar o risco de transmissão do coronavírus.
Além disso, é necessário que a equipe seja bem treinada, receba EPI apropriado e o paciente receba as recomendações necessárias antes do atendimento.
Agora existe no mercado uma seringa carpule que é estéril e descartável. Além disso, ela tem um sistema exclusivo que encapsula completamente o tubete anestésico, evitando que ele entre em contato com a mucosa
bucal do paciente.
Finalmente, a biossegurança deve ser seguida à risca, para que a cadeia séptica não seja quebrada e, com isso, haja redução do risco de contaminação do paciente, do profissional, bem como de toda a equipe.