A articaína é um sal anestésico que pode ser usado na anestesia odontológica. Mas, alguns profissionais têm alguns receios sobre o uso da articaína. Portanto, vamos tratar sobre mitos e vantagens da articaína.

O que é articaína?

Articaína é um anestésico local, sendo bastante utilizado em procedimentos de anestesia local em Odontologia. Nos Estados Unidos, por exemplo, a articaína é o segundo tipo de anestésico utilizado, assim como na Alemanha também.

Sua aprovação pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão responsável pela aprovação do uso de drogas e medicamentos nos Estados Unidos ocorreu em 2000. Ou seja, a articaína ainda é um anestésico novo, se comparada com a tradicional lidocaína, por exemplo.

Em relação à sua estrutura química, a articaína possui tanto grupamento amida quanto éster, o que lhe confere características únicas.

Conforme o estudo recente de alguns pesquisadores (Gonçalves et al., 2021),

 “Algumas características moleculares diferem a articaína dos demais anestésicos pertencentes ao grupo, como a presença de um anel tiofeno em sua molécula química, substituindo o anel benzeno normalmente existente, conferindo uma maior lipossolubilidade, que se manifesta clinicamente com o aumento da potência e da capacidade de alcançar sucesso anestésico. Além disso, a articaína é o único anestésico local do grupo amida a possuir um grupamento éster em sua molécula química, e assim, possui duas vias de biotransformação, sendo metabolizada tanto no fígado, quanto pelas esterases plasmáticas. Tal particularidade contribui para seu tempo de meia-vida mais curto, e menor toxicidade”.

 A excreção da articaína se dá através dos rins.

Vantagens da articaína

Por ser um anestésico com uso bastante difundido nos Estados Unidos, muitos profissionais no Brasil começaram a dar mais atenção ao uso da articaína.

E, de fato, esse anestésico apresenta algumas vantagens em seu uso:

  • Ação rápida;
  • Boa duração do efeito anestésico;
  • Boa difusão nos tecidos moles.

Uso da articaína

Devido às suas características químicas, a articaína possui uso indicada para anestesias infiltrativas. Sua concentração é de 4%, o que é mais alta do que a concentração de outros sais anestésicos comumente usados no Brasil.

Devido às suas propriedades, a articaína é uma boa opção para anestesias do tipo infiltrativa, inclusive na mandíbula, sem a necessidade de anestesia de bloqueio, dependendo do procedimento.

Em relação às suas características, a articaína apresenta rápido início de ação, entre 1-2 minutos. Já em relação à duração do efeito anestésico, a articaína a 4% com epinefrina, na dosagem de 1:100.000 apresenta duração de até 60 minutos para dentes maxilares, 90 a 100 minutos para dentes mandibulares e de até 4 horas para tecidos moles.

Para o cálculo da dose máxima, se estabelece a concentração de 4% com epinefrina na dose de 1:100.000. Dessa forma, um adulto com 70 kg teria como dose máxima de articaína sete tubetes. Por outro lado, para uma criança, com peso de 20 kg, por exemplo, a dose máxima seria de um tubete e meio.

Contraindicações do uso da articaína

As contraindicações relacionadas à articaína estão relacionadas à alergia ao enxofre. Por isso, é importante perguntar ao seu paciente se ele já demonstrou algum tipo de reação alérgica ao enxofre, como presente nas sulfas, por exemplo.

Outra contraindicação para o uso da articaína está em pacientes com metaglobinemia idiopática ou congênita. Gestantes também não são grupos indicados para o uso da articaína, devido ao risco de metaglobinemia, tanto na gestante quanto no feto.

 Além disso, pacientes com anemia ou insuficiência cardíaca ou respiratória, também representam grupos de pacientes contraindicados para o uso da articaína.

Para pacientes diabéticos, a melhor opção de anestésico é a prilocaína com vasopressor felipressina.

Complicações no uso da articaína

Assim como qualquer droga anestésica, a articaína também pode apresentar complicações. Diversos fatores podem estar envolvidos em relação às complicações no uso da articaína. É importante citar que toda droga possui um certo grau de toxicidade. Portanto, é sempre importante manter-se no limite inferior do uso de tubetes anestésicos. 

Parestesia associada à articaína

Não são poucos os relatos de parestesia associada ao uso da articaína. Estudos mostram que embora o tema ainda seja confuso e digno de preocupação, há sim uma possível neurotoxicidade relacionada à articaína.

Ainda no estudo recente de Gonçalves et al. (2021), os autores citam que:

“Por ser comercializada em uma concentração mais elevada, a 4%, alguns autores relacionam o uso de articaína a um maior risco de parestesia não cirúrgica. Diversos trabalhos retrospectivos já foram desenvolvidos, com base em casos de parestesia não cirúrgica relatados a órgãos responsáveis em diferentes países, como Canadá e Estados Unidos da América. Estes trabalhos demonstram que a articaína é responsável por grande parte dos casos de parestesia advinda da realização de anestesia local, sem procedimento cirúrgico associado. Essas taxas variam entre 41 e 60%, aproximadamente, diferindo a articaína dos demais anestésicos de uso odontológico.”

Entretanto, outros autores afirmam que não há evidências suficientes para afirmar que o risco de parestesia não cirúrgica é maior com o uso de articaína 4% do que com lidocaína 2%.

No final desse artigo, os autores concluíram que a articaína é um anestésico local seguro, com várias vantagens e que apesar dos relatos de efeitos adversos, pode ser utilizada em procedimentos odontológicos com segurança, quando respeitados os limites e as indicações.

Referência

Gonçalves, CM et al. Articaína: aspectos moleculares e aplicabilidade na clínica odontológica. Research, Society and Development, v. 10, n. 10, e299101018954, 2021.